Desafio Escrever um Conto Outubro de 2010 www.portugalparanormal.com Entrevista a um Alienígena por Margarida Finalmente chegara o meu dia de folga! Apesar de guardar sempre este dia para me dedicar aos trabalhos do lar, aos amigos e à navegação por terras da internet, hoje queria dar-me ao luxo de preguiçar o tempo todo! Ia dormir até à hora do almoço, ficar o dia todo de pijama, ler um livro talvez e esquecer os artigos que tinha ainda pendentes na dependência do jornal onde trabalhava. Estava tão bem a dormir, a sonhar que viajava no espaço… mas estão a bater à minha porta. Não há direito! Acho que vou matar o desgraçado que se atreveu a acordar-me, ai que fúria! - Chega! Já ouvi! Arre… Quem é? - Por favor senhora, preciso de ajuda, estou ferido… Abri a porta sem pensar! Foi estupidez eu sei, estou cansada de saber que tal gesto pode terminar com a minha vida e até com muito sofrimento pelo caminho, mas agora já está seja o que Deus quiser. Assim que abri a porta deparei-me com um homem de aspecto estranho, completamente careca, sem barba, sem sobrancelhas ou pestanas, era caricato! Reparei que trazia luvas e tinha uma das mãos a carregar na zona abdominal. Encaminhei-o para a casa de banho e quando me ia preparar para lhe fazer um tipo de curativo adequado à sua ferida, pediu-me gelo, muito gelo, precisava apenas de uma banheira cheia de gelo. Comecei então a temer pela minha integridade física, seria um daqueles homicidas que assaltam os mais desprevenidos e ainda os matam para lhes retirarem os órgãos internos? Apressei-me a despejar todo o gelo que tinha em casa, na minha banheira e saí porta fora para ir à loja do Sr. Joaquim comprar todos os sacos de gelo que ele lá tivesse. Porque o fiz? Não sei, só sei que o tinha de fazer e pouco me preocupei com os comentários das más-línguas que afirmavam que eu tinha enlouquecido. Não era de admirar, olhando para trás, imaginem uma mulher sair de casa em pijama, pantufas e com o cabelo ainda todo desgrenhado para comprar quase vinte sacos de gelo em pleno Inverno… Mal cheguei a casa a minha visita já estava dentro da banheira, enfiado no meio do gelo… Despejei o que conseguira arranjar e deixei-o ficar. Ao sair da casa de banho reparei numa das minhas toalhas de rosto encharcada com um líquido azul cobalto… Que estranho! Deixei a porta entre aberta por pura precaução. Vi com algum horror as suas mãos, tinham apenas quatro dedos finos com ventosas nas extremidades. Foi então que comecei a juntar os factos e me dei conta que tinha deixado entrar na minha própria casa um alienígena. E agora o que é que eu ia fazer? Ia fazer aquilo que me estava nas veias… Pois bem! Fazer uma entrevista! Fui preparar todo o equipamento, desde a câmara de filmar, a máquina fotográfica, o computador portátil e o gravador. Vi-o sair da banheira! Era impressionante! Assemelhava-se às formas humanas mas existiam algumas diferenças. Não tinha mamilos, nem umbigo, nem órgão sexual visível apenas tinha no final do tronco algo que se assemelhava a uma minúscula cauda que abanava como as caudas das lagartixas ou das osgas. Se tive medo? Não! Estava completamente tranquila e relaxada. Quando se chegou perto de mim disse-me: - Desculpe senhora pelo incómodo! - Não tem importância! - Como posso compensar a sua maçada? - Posso fazer-lhe uma entrevista? - Já descobriu tudo! Fui descuidado! Não tem medo? - Não! – Disse eu convicta, mas por dentro a borrar-me toda de medo. - Acho que está na hora dos seres humanos saberem toda a verdade. - Toda a verdade? - Sim! Eu explicarei! - Vamos começar, vou gravar a nossa conversa e tirar fotografias importa-se? - De modo algum… - Como se chama? - Aqui na Terra sou João, na lua onde nasci sou Wrywaazty. - Difícil de escrever esse nome… e que idade tem? - Não sei! Apenas vivemos e não nos preocupamos quanto tempo permanecemos, a nossa existência não é marcada desde que saímos do nosso casulo nem registada quando desaparecemos. - Interessante! E de onde são originalmente? - Eu sou de uma lua de Neptuno, a maior delas todas… Tritão! - Mas sendo Tritão uma lua com uma atmosfera extremamente fina e tão gelada com partículas de gelo de nitrogénio como conseguem sobreviver aqui na terra com as nossas temperaturas? - Os nossos corpos sendo anfíbios têm capacidades de se adaptarem a diferenças extremas de estados atmosféricos. - E porque razão estão de visita ao nosso planeta? - Para salvarmos o universo! - Como? - Cada planeta, cada lua, cada estrela no universo tem a sua função, se um deles desaparecer haverá uma destabilização em cadeia! - Não entendo, pode explicar melhor? - De modo como os seres humanos estão a tratar o seu próprio planeta, estão em risco de o fazerem explodir, fazê-lo desaparecer e se tal acontecer a tragédia será muito maior. - Continuo sem entender… - Cada planeta tem a sua atmosfera, as suas formas de vida que para vós humanos não são visíveis, mas elas existem! Se o vosso planeta desaparecer, explodir todos os outros irão morrer também! Basta não haver o distanciamento certo em cada planeta para que se cheguem mais perto do Sol e todo o universo entrará em ruptura. Atrás da terra todos os outros morrerão a pouco e pouco. - Estou a entender, mas mesmo assim qual é o vosso objectivo aqui no nosso planeta? - O objectivo é parar com o vosso aquecimento global, inverter a situação contribuindo com a mudança da vossa temperatura para níveis mais baixos. - E como chegaram até nós sem serem detectados? - As nossas naves são translúcidas tal como nós quando estamos pelo espaço e no nosso planeta. Depois assumimos formas corporais semelhantes às formas de vida que encontramos. - Mas não são assim tão semelhantes a nós… - É verdade, quando chegámos o único ser humano que vimos carregava consigo um tipo de lagarto, como não conhecíamos exactamente a sua anatomia, assumimos mas deu-se uma metamorfose e ficámos diferentes. - Isso causa-vos transtornos? - Muitos, mesmo com aspecto humano temos diferenças, o que nos dificulta o nosso trabalho, o nosso objectivo… - Dificulta em que termos? - Deveria haver uma nova geração de humanos nascidos com parte dos nossos genes para que os seus corpos se adaptassem às temperaturas menos quentes, logo iria também haver um menos consumo de energia do vosso planeta e menos poluição pela vossa parte. A natureza restabelecia-se, podendo até os humanos fazerem um melhor aproveitamento das suas matérias naturais sem prejuízos para a vossa atmosfera. - Quer dizer que o vosso plano de reprodução falhou… não lhe parece que fosse um plano ofensivo? Uma violação da nossa existência? - Não, até mesmo entre as espécies humanas se fizessem este tipo de reprodução acabariam com as vossas diferenças, com os tais racismos e xenofobias. - Mas isso seria um atentado à natureza pois até os animais têm diferentes características e espécies… - Na nossa lua não! Somos todos iguais, vivemos pacificamente, apenas prevenimo-nos dos vulcões e dos geiseres. - Então o vosso plano falhou! Que pretendem fazer agora? - Não falho! Apenas precisamos de uma maior abertura nas vossas mentes para aceitarem a nossa aparência e nos permitirem levar a cabo o nosso objectivo, para vosso bem… - Mas se nessa metamorfose não existe sistema reprodutor, como é que vão levar a cabo semelhante acto? - Nós temos sistema e órgãos reprodutores! - Pelo que inocentemente verifiquei não constatei que os houvesse… - Está disposta a verificar e constatar melhor? O tema da entrevista começou a mudar em termos que não poderei pronunciar, mas assim que terminei a entrevista com o meu doce alienígena, descobri novas naturezas mais encantadoras, rituais mais intensos e bem mais agradáveis à nossa atmosfera. A libertação que estes seres produzem, causa arrefecimento natural e como tal sou a primeira a contribuir para a salvação do meu planeta! Quanto à minha entrevista mereceu no jornal prémios de mérito, mas mesmo já com muitos anos passados desde então, não me canso de fazer esta mesma entrevista diariamente no aconchego do meu lar! Se resultou o plano deles? Para mim resultou e como resultou… Se as temperaturas baixaram? É um facto evidente! Mas os machos humanos não sei porquê não andam lá muito contentes com as melhoras do planeta. Enfim… deve ser do frio! Coitados… - FIM -