Desafio Escrever um Conto Outubro de 2009 www.portugalparanormal.com A Vida e a morte no Sanatório em 1940 por analmeida 13 de Março de 1943 Depois de muito recordar abandonei aquele cemitério, uma das muitas paragens finais de um corpo despegado para sempre da vida, agora retornado à origem. Ela foi amada por todos mesmo vivendo no sítio mais horripilante de sempre. Todas aquelas noites sem dormir, todos os dias à procura da melhor maneira de sobreviver ao inferno a que a sua vida estava exposta. Muitas foram as noites em que acordava com os seus fracos gemidos, provocados pela febre, Tantas as vezes assisti a inesperadas complicações respiratórias. A sua falta de apetite dava lugar a um emagrecer constante, era desconfortável ver alguém perder “presença” daquela forma. Mas tudo mudou para melhor quando finalmente encontrei explicação para o que estava a acontecer. Depois de vários exames e consultas de rotina, foi diagnosticada Tuberculose á minha mãe. Lembro-me das últimas palavras do Dr. Klaus ao sair do seu minúsculo consultório "Procure o melhor lugar, a doença encontra-se numa fase inicial, de momento não apresenta risco de contágio, mas poderá ficar activa para breve ", daí escolher o sanatório de Waverly Hill, em Kentucky nos Estados Unidos da América. Era o sítio ideal, poderia até dizer perfeito. Tratava-se de um edifício de 5 andares com capacidade para acolher 400 pessoas infectadas. Era um lugar calmo e com um grande espaço aberto, o que facilitava o tratamento, já que o mesmo consistia em apanhar bastante ar fresco, muito descanso, ingestão de alimentos ricos em proteínas. E assim deixei a minha mãe naquele lugar, que visitei com tanta frequência quanto me foi possível. Não poderia dizer mal dos médicos, pois nem tudo é perfeito mas eles eram os mais indicados para aquele tipo de doença. Sentia que a minha mãe estava entregue a boas mãos, tal como qualquer pessoa que ali estivesse pelo mesmo motivo que tinha levado a minha mãe a lá estar. Mas a partir de 12 de Novembro de 1936 tudo voltou a piorar. Pela primeira vez, em muitos anos, fui contactada de urgência para ir ao hospital, a minha mãe voltara a piorar e foi exposta a uma intervenção cirúrgica, que consistia em “apertar” os pulmões e injectar ar, o que possibilitava o fecho de buracos causados pela doença. Quando realmente pensei que seria só mais um pesadelo e que tudo voltaria ao normal, fiquei a saber novamente que a sua história não acabaria aqui. Pois mais tarde foi efectuada uma intervenção que consistia na remoção das partes do pulmão infectadas, uma técnica mais avançada em que era necessário tirar 6 a 7 costelas do tórax do paciente. Com estes pensamentos o meu estômago revolvia-se, pois sabia que tudo isso poderia ter curado a minha mãe, ou mesmo matá-la. Lembrei e relembrei todas as visitas, até ao dia em que fui proibida de a ver. Sabia que seria o melhor para mim, pois com um marido e um filho seria um problema se algo me acontecesse, mas exigi que todos os dias fosse informada acerca do seu estado, fosse ele positivo… ou negativo. Não tinha noção do que se passava, nem os próprios médicos tinham. Todos os dias me diziam o mesmo "Estamos a fazer o que podemos", mas muitas eram as vezes em que se “descaíam” e acabavam por dizer que não sabiam o que se passava, nem qual o rumo que as coisas levavam. Mas hoje foi o dia em que descobri por fim a realidade da situação e passados sete anos vi o estado em que a minha mãe estava - imóvel, tão branca e fria como o mármore - e soube que o motivo da sua doença era incompreensível, o seu organismo não combateu a tuberculose como deveria ter combatido, mas nos últimos dias antes da sua morte, algo lhe debilitou as defesas e eles não puderam fazer nada, ate hoje, o seu último dia em 53 anos. A dor agora possuía-me. E cá estava eu, ausente de tudo e todos. O que eu não dava agora para ter aqui a minha mãe, o que não dava agora para voltar a receber o seu abraço, ter a sua palavra de conforto e carinho. Ela não merecia ter passado o que passo, ninguém devia passar o que ela passou. Mas ninguém escolhe a vida, ninguém escolhe o seu destino. Agora sem ela o que seria feito de mim? Como seria a minha vida a partir de hoje? Como iria eu conseguir viver com esta dor e angustia que se apoderavam de mim a todo o custo? A única coisa que poderia fazer era esperar, deixar passar os dias, os meses e talvez anos e esperar o que esta vida me reservava. Nem tudo deveria ser mau e tudo tem o seu modo de resolução. Eu não decidi fugir no primeiro instante, por isso iria enfrentar a minha vida também nesta hora. - FIM -