Desafio Escrever um Conto Novembro de 2010 www.portugalparanormal.com A Gruta dos Medos por Arph Naquela manhã de Março, Bruno reuniu-se com um grupo de elite de espeleólogos nacionais, duramente treinados por si e companheiros de muitas expedições. Era particularmente tensa a atmosfera que envolvia o grupo. Depois duma pausa, Bruno, com um inusual ar taciturno, disse: – A expedição tem que ser feita durante os meses de Verão, por causa do bom tempo, ou então não valerá a pena. Não quero que corramos riscos desnecessários. Uma enxurrada pode ser fatal! Foi isso mesmo que já transmiti ao comando da operação. Estamos em Março, ainda falta muito tempo, há, por isso, que preparar com muita antecedência o material e os procedimentos. Não quero erros da nossa parte. Esta missão sigilosa é de extrema importância. Não preciso de vos lembrar o quanto é importante adentrar-nos no interior da gruta, explorá-la e apurar da veracidade das informações secretas detidas pelas nossas autoridades sobre estranhas movimentações no interior da serra. Os sismógrafos têm detectado há vários anos intensa actividade sísmica constante, localizada na Serra e aí circunscrita, chegando a atingir 5 graus na escala de Richter, o que é impossível de ocorrer numa zona geologicamente inactiva, sem fracturas geológicas e longe das zonas de fricção das placas tectónicas. Como não há também actividade de exploração de pedreiras ou outras actividades humanas similares, que seriam visíveis e notórias nestes casos, isso quer dizer que a origem dos sismos só pode ser não humana e não natural. É esta desconcertante realidade que esperam que ajudemos a descobrir. Por isso, esta é a mais importante das missões que alguma vez nos foi atribuída. Não ignoramos o elevado carácter sigiloso da missão nem o alto risco da mesma. Mais do que nunca, devemos ter tudo muito bem preparado. Não sabemos quanto tempo iremos permanecer no interior da Serra, por isso teremos que levar víveres para um período mínimo de dez dias. Fixaremos a nossa base na galeria principal da gruta, que se situa na perpendicular da ‘Porta do Inferno’. Por aí faremos a descida dos mantimentos por meio de cabos e roldana exterior que o Exército nos vai facultar. Aliás, teremos do Exército a total colaboração na organização e execução da logística. Elementos do Exército, mais propriamente um grupo de operações especiais, vão estar em permanência e em estado de prontidão junto da ‘Porta do Inferno’ para a eventualidade de terem que intervir, em consequência de eventual risco das nossas vidas por acção exterior. Dois elementos desse grupo de operações especiais vão-nos acompanhar e encontram-se neste momento em França num curso intensivo de espeleologia, ministrado pelo Exército francês. De França virão mais dois elementos dum grupo especial do Exército francês, que também nos acompanharão. Também da Alemanha virão dois militares. De Inglaterra virão dois indivíduos especializados em exopolítica. Da Islândia virá um especialista em sismologia, com tecnologia da mais avançada. Um norte-americano, ao que suponho elemento da CIA, fará parte do grupo, mas nada me revelaram sobre ele nem das suas funções. Como podem ver, isto não é uma brincadeira nem nós temos margem para gracejos. Isto é muito real, há a grande probabilidade de fazermos contacto com alguma espécie de civilização desconhecida, cujas intenções ignoramos, o que torna a missão potencialmente perigosa. A OTAN está a par de tudo, e todos os organismos e Estados envolvidos depositam em nós grandes expectativas, pelo que a nossa responsabilidade é suprema e avassaladora. Alguma questão? Ok, então dou por encerrada a reunião. Mantenham-se contactáveis, pois a qualquer momento poderemos ser chamados para algum procedimento com vista à apresentação de toda a equipa e atribuição e coordenação de tarefas específicas. O grupo ficou letárgico, como se a absorção daquelas palavras, pelo peso, lhes tivesse aprisionado as almas e tudo se reflectisse nos seus rostos inexpressivos, de olhares distantes, vazios, perdidos. O que era normal nas anteriores missões exploratórias, as gargalhadas, os gracejos e piadas, que traziam ao grupo a costumada boa-disposição, agora não se via, como se tivessem tido um vislumbre ou um pronuncio do que iria passar-se na missão que estavam a preparar. Algo de inquietante, como um sexto sentido, pairava sobre todos, e era denso e perturbador. Ninguém mais conseguiu ter uma noite tranquila. Os sonhos eram constantemente catastróficos, negros, inquietantes, com grutas a desabar, monstros nunca vistos, escuridão sufocante… Todos andavam com uma estranha má disposição, nervosismo, cansaço, irascibilidade. Nem o recurso a psicólogos do Exército lhes atenuou os sintomas, os quais, pelo contrário, se iam agudizando à medida que o Verão se aproximava. Em finais de Maio, finalmente, todos os elementos da missão se reuniram pela primeira vez, tendo-se ficado a conhecer mutuamente. Os dois ingleses eram pessoas bem-dispostas, embora um pouco reservadas, magros e altos, com os típicos fatos à Oxford; já os militares franceses, portugueses e alemães se mantinham juntos e distantes e com uma expressão férrea, sem exteriorizarem emoções, parecendo, mais do que ninguém, conscientes do que representava efectivamente a missão. O islandês, muito vermelhusco e um pouco anafadinho, era, visivelmente, o mais extrovertido de todos, com um sorriso franco que, noutras ocasiões, faria o contágio geral; já o norte-americano era o mais estranho deles: de fato negro, com camisa cinzenta e óculos escuros, mantinha-se a um canto onde observava todos no maior silêncio e discrição. E era muito branco, mais realçado pelo contraste com a roupa, duma palidez que não é vulgar encontrar-se, a não ser nos anémicos, mas de certo não era o seu caso, pois era robusto – uma estranha figura, de facto, a roçar o sinistro. Bruno e os seus três colegas, entre eles a Joana, rapariga de 26 anos muito determinada e experiente, estavam eléctricos, cheios de impaciência e tentavam, de todas as formas, disfarçar o seu nervosismo. Queriam que tudo começasse e acabasse o mais rapidamente possível. Já tinham tudo pronto e revisto. Era só aguardar os relatórios de meteorologia e aguardar a data. Pouco depois entraram cinco Oficiais da OTAN, um português, um francês, um alemão, um holandês e um inglês que explicaram a grande responsabilidade daquela missão e a enorme probabilidade de terem contacto directo com uma civilização inteligente intra-terrestre. A necessidade de cautelas acrescidas, tentando o contacto amigável e obter a maior informação possível sobre essa civilização, mas com a advertência que deveriam recuar imediatamente ao menor sinal de agressividade séria por parte da mesma. De súbito entrou um Sargento-Mor com um envelope e entregou-o ao Oficial português, que o abriu e leu e deu a conhecer aos colegas. Retiraram-se para uma mesa à parte e passados uns dez minutos informaram o grupo da data e hora do início da missão: 8 de Junho, pelas 6:00h. Todos deveriam estar em máxima prontidão e observar, rigorosamente, a dieta determinada pelos nutricionistas do Exército. A missão estava, pois, marcada para daí a pouco mais que uma semana. Bruno e a sua equipa nunca haviam descido àquela gruta. Já tinham ouvido falar dela mas sabiam que o Exército tinha restringido aquela área ao acesso de civis, há vários anos. Tinham apenas um esboço da galeria principal da gruta e de duas ramificações conhecidas, que o Exército lhes entregou. A Serra, que se estendia de Norte a Sul, deveria ser explorada para Oeste, na direcção duma das bifurcações: precisamente aquela que ia no sentido do epicentro dos sismos onde presumiam ser o local mais provável para o contacto. No dia e hora marcados, todos se apresentaram no local com roupas próprias, botas, capacetes e mochilas. Bruno foi o primeiro a descer. Ligou a lanterna do capacete e iniciou a descida: uma impressionante descida vertical de 585 metros que fez em 15 minutos. Ao chegar ao fundo, fez sinal com a luz e deram início à descida dos restantes três elementos do grupo de espeleólogos, de uma só vez. Quando o grupo se reuniu, iniciou-se a descida do abastecimento de víveres e equipamentos vários. No final, desceram os restantes elementos da missão. Seriam 10 horas quando todos se reuniram no fundo da gruta. A galeria era uma sala enorme com uma abóbada muito alta. Sem dúvida uma gruta de origem cársica, com muitos milhões de anos de erosão química, provocada pelas infiltrações de água da chuva e que deram origem àquela maravilha natural. Embora o fosso fosse extraordinário, porém nada comparável ao de Salzburgo, na Áustria, o qual atinge a espectacular profundidade de 1632m. As estalactites e estalagmites eram deslumbrantes: um paraíso para os espeleólogos – mas a missão não era de espeleologia! Decidiu-se que iriam explorar a ramificação do quadrante Oeste para ver a sua máxima extensão acessível e, se fosse muito extensa, encontrar salas para poder acomodar acampamentos intermédios, de modo a possibilitar uma maior capacidade táctica. Os militares traziam consigo explosivos plásticos, metralhadoras com câmara silenciadora, preparadas para disparos em grutas, e umas armas na cintura que mais faziam lembrar os filmes do espaço, da ficção científica: as famosas armas laser. Bruno foi à frente iluminando o caminho com uma potente lanterna. O caminho, a certa altura, encontrava-se parcialmente obstruído por material de desmoronamentos e estalactites desprendidas do tecto da gruta. O silêncio era, exactamente, cavernoso! Apenas se ouviam os passos e os pingos da água. No início da ramificação Oeste o caminho apresentava cerca de 10 mts de largura e as paredes, muito altas, eram impossíveis de iluminar até ao cimo, ficando um negrume incómodo. Embora habituado a estes ambientes, a verdade é que Bruno se sentia intimidado por esta gruta; a sensação de desconforto era grande, aumentada por um sentimento de estar a ser observado. Parecia-lhe que aquela gruta não era absolutamente como nenhuma outra por onde andou. Passada meia hora, e indo nestas conjecturas, Bruno, repentinamente, estacou e o seu coração começou em grande aceleração, numa arritmia que a custo conseguiu dominar. Um dos militares portugueses, estranhando o comportamento, acercou-se dele e perguntou-lhe o que se passava. Bruno, entre dentes, disse-lhe que tinha a certeza de ter visto um vulto negro a mover-se à sua frente, com aspecto humanóide. Tinha a certeza! O militar deslocou-se à retaguarda e logo de seguida regressou com mais dois colegas para junto de Bruno e disse-lhe para continuar. Por esta altura já os restantes membros se sentiam ansiosos e preocupados, pois não foram informados mas sabiam, pelas movimentações, que algo de estranho se passava. Bruno continuou cautelosamente, enquanto os militares activavam as câmaras de infra-vermelhos que tinham nos capacetes e perscrutavam a gruta sem nada detectarem. Prosseguiram. Nem seriam volvidos mais 10 minutos e o caminho estreitou drasticamente, tanto em altura como em largura: passaram para uma espécie de túnel com 3 mts de largura por uns 3mts de altura que seguia em linha recta. Havia escombros no chão. A uns 300 mts mais à frente depararam-se com uma galeria ampla, com mais de 20 mts de diâmetro, de cuja abóbada, situada a uma altura sensivelmente de 15 mts, saíam magníficas estalactites, muitas delas, porém, partidas e cujos destroços se espalhavam pelo chão da galeria, formando intrincados amontoados de pedra, por cima de estalagmites, muitas delas também danificadas. Era um sinal bem visível de que os sismos provocavam danos marcantes e irreparáveis. Viam-se fissuras em algumas partes das paredes que, a um olhar atento dos espeleólogos, indiciavam a possibilidade do prolongamento da gruta através delas e a probabilidade de novas galerias. Como eram estreitas, mal dando para passar uma pessoa, decidiram voltar atrás para recolher mantimentos e material e montar nesta nova galeria um acampamento intermédio, por onde dariam início à parte mais importante da missão. Entretanto o islandês ia colocando sensores ao longo do percurso, quer nas paredes, quer no chão. Tanto no regresso ao acampamento base – onde os militares informaram o Comando de Operações do que iam fazer, bem como da estranha figura que Bruno alegava ter visto –, como na volta ao acampamento intermédio, a viajem fez-se sem sobressaltos. O acampamento ficou junto duma parte mais limpa de escombros e sem estalactites, para se prevenirem de algum desprendimento em consequência de novo sismo. Os militares voltaram a falar com Bruno acerca do ser que diz ter visto, interrogando-o se não teria sido uma partida da escuridão e da sugestão. Bruno foi categórico, sabia o que tinha visto… mas admitia que pudesse ser consequência de algum fenómeno de óptica provocado pela escuridão extrema; no entanto, adiantava que era muito experiente neste tipo de explorações no interior de grutas e nunca tinha experimentado nada do género, pelo que achava tudo muito invulgar. Perante esta posição de Bruno, os militares entenderam que não era de descartar que este tivesse efectivamente visto o ser, e por isso montaram um perímetro de segurança à volta do acampamento, no qual colocaram alarmes accionados por raios infra-vermelhos, e advertiram toda a gente para não o ultrapassar nem se afastarem sem aviso prévio. Junto a um monte de destroços, um pouco afastado do acampamento, mas dentro do perímetro de segurança, ficava a latrina, para as necessidades fisiológicas dos elementos da expedição. Iam descansar e depois de um período de repouso de 5 horas retomariam a exploração, ou seja, por volta das oito(20h)horas. Três militares ficaram de turno a vigiar e seriam revezados pelos colegas após duas horas e meia. No acampamento apenas estava acesa uma lanterna que não evitava que a caverna estivesse na maior penumbra. Passada uma hora, era já indisfarçável que não estavam sozinhos. Barulhos de passos, de pedras a serem deslocadas eram indícios claros de que havia actividade no local. Os militares apontavam as suas potentes lanternas, mas nada viam. Já ninguém conseguia descansar. Passos e mais passos se aproximavam, as pedras eram deslocadas e arremessadas contra as paredes, e tudo se passava muito próximo da galeria onde estavam. Se calhar para lá daquelas fissuras que viram. De súbito…um silêncio sepulcral e pouco depois sentiram um sismo que o sismógrafo do islandês registou com a potência de 4 graus na escala de Richter. Este abalo fez tremer toda a gruta e sentiram-se, estrondosamente, os impactos das rochas desprendidas das paredes e tecto ao caírem no chão. O grupo ficou alarmado e baixaram-se instintivamente. Depois desse barulho terminar, ouviu-se por todo o lado, e por breves instantes, uns agonizantes sons, muito agudos, que feriam os tímpanos. Parecia que um milhão de morcegos tinha lançado em uníssono os seus gritos. Estes sons, arrepiantes, gelaram-lhes o sangue. Depois de explorarem a galeria para verem a dimensão dos estragos descobriram que na sua extremidade Oeste, no chão, perto das fissuras, aparecia uma abertura de contornos irregulares, quase quadrangular, com cerca de 3 mts de lado. Bruno acercou-se dela e apontou a sua luz para baixo, vendo o chão a cerca de 10 mts de profundidade. Tratava-se do chão duma galeria superior que abateu, em parte, sobre uma galeria inferior, permitindo a sua comunicação. Já tinha visto casos semelhantes. Após breve troca de palavras, decidiu-se que iriam aguardar por sinais de movimentações. E enquanto vigiavam a gruta inferior, iam explorar as fissuras. Neste compasso de espera, três militares, Bruno, Joana e um dos ingleses começaram a exploração da maior das fissuras, e única explorável, tendo-se adentrado por mais de 400 mts, sempre por um estreito carreiro por onde mal cabiam, altura em que a fissura terminava numa pequena sala, de 4 mts de largura com a abertura de um fosso com 2 mts de diâmetro. Alinharam-se todos à beira do fosso e projectaram em conjunto a luz das suas lanternas para o interior do mesmo sem que conseguissem ver o seu fundo. No entanto, repararam que as suas paredes eram muito largas, pois também não as conseguiam visualizar, podendo grande parte da serra, incluindo grande parte da extensão da fissura por onde vieram, estar em falso sobre aquele buraco infernal. Lançaram pedras para o seu interior na tentativa de ouvirem algum barulho e determinarem, de alguma forma, a profundidade…mas sem resultado. Parecia não ter fundo. Mesmo uma pedra com uns bons 5 kg foi lançada em vão, pois foi como se a escuridão a tivesse tragado. Nem um som. Só aquele silêncio medonho. Um militar retirou um aparelho de medição a laser, com alcance máximo de 3 km, e lançou a sua luz para o poço, a fim de determinar a sua profundidade: nada! Já as paredes iam de 326 mts para Sul e 768 mts a Norte, embora com imprecisão dado o facto de o laser ser enviado com inclinação. Assim, e cientes do enorme perigo que corriam, pois o chão onde se encontravam podia desabar para o abismo, voltaram para trás rapidamente. Já na galeria, junto aos colegas, informaram da descoberta. Ninguém sabia o que dizer. Não eram conhecidos fossos tão profundos. O sismólogo islandês estava desconcertado e sem respostas. O seu computador, com ligação aos sensores, tinha mostrado uma ‘radiografia’ impressionante da Serra, dada pelo sismo. Afinal, toda a Serra era a cúpula, a abóbada, de um enorme abismo cuja origem se ignorava; cúpula esta que se aguentava, ainda, graças a uma intrincada teia de rocha. A gruta inferior, posta a descoberto pelo último sismo, não tinha apresentado até então qualquer sinal de movimento anómalo, para além de uma ou outra rocha que se desprendeu por acção, ainda, do abalo. O americano analisou os dados do islandês e ficou com um semblante carregado e exteriorizando uma preocupação que denunciou a sua inicial frieza. Isso não passou despercebido a Bruno e amigos que o questionaram, sem êxito. Apenas referiu que nos EUA, na Rússia e nos Himalaias havia situações similares, já não nos Andes e em outras cordilheiras menores. Nunca pensaram que em Portugal isto pudesse ocorrer. Percebia-se que sabia muito mais do que dizia. Tinham que descer à nova gruta o quanto antes e tentar retirar o máximo de provas possível; qualquer coisa de invulgar que encontrassem. Os militares reuniram-se discretamente com o americano e de seguida começaram a armazenar imenso explosivo plástico nas mochilas, o que alarmou Bruno e o seu grupo. Desta vez, foram 4 militares que desceram com um dos ingleses, Bruno e Joana e o americano. Os restantes ficaram na base intermédia. Desceram cautelosamente pelos cabos, até tocarem o chão da gruta inferior. Ali sentia-se um cheiro fétido que não havia chegado à galeria superior. Um cheiro ácido e desagradável. Colocaram as máscaras de oxigénio, por precaução e pelo ar rarefeito. Verificaram que aquela galeria tinha um corredor extenso na direcção Oeste, com cerca de 6 mts de largura por cerca de 4 mts de altura e prosseguiram por ele. À medida que avançavam deixavam atrás de si uma escuridão que os sobressaltava. Aquela passagem tinha mais de 1 km de extensão e não parecia ter origem natural, antes dava a impressão de ser de origem artificial, pois era uniforme e não apresentava estalactites nem estalagmites. No final da passagem, depararam-se com uma impressionante vista: uma imensa abóbada por cima de si e a uns 20 mts à frente o início de um monstruoso fosso. Algo colossal e indescritível. Apontaram as lanternas mas não alcançaram as paredes, nem o aparelho de medição lesar alcançou o seu fim. Este fosso devia estar ligado e fazer parte daquele outro que haviam visto no final da fissura. De repente, à beira do precipício, ouviram novamente enormes barulhos de movimentações e aqueles silvos agudos, parecidos com os guinchos ou gritos lançados pelos morcegos, criando um cenário apavorante. Os militares colocaram visores nocturnos com leitura por fotões que, através da luz produzida pelas lanternas, conseguiam alcançar uma boa parte da gruta… e aí ficaram impressionados! As paredes visíveis estavam repletas de estranhos seres humanóides, de grandes olhos vermelho fogo, muito escuros, que se agarravam às paredes íngremes e pareciam querer afastar-se da luz das lanternas. Passaram os visores ao inglês e ao americano, que acenaram com a cabeça, como que a confirmar o que já sabiam. Acoplaram um desses visores a uma máquina de filmar e registaram em vídeo tudo o que conseguiram e iniciaram o regresso. Porém, os seres começaram a convergir para a entrada do fosso, com uma destreza formidável e pouco depois a sua orla estava repleta deles, com ar ameaçador. O inglês fez sinal ao grupo para parar de recuar e deixarem apenas uma lanterna ligada para não ferirem os olhos das criaturas. O militar com a câmara de vídeo ia registando tudo o que podia. O inglês, preparado para estes contactos insólitos, apesar de advertido pelo americano, avançou devagar com a mão direita levantada ao nível do peito e a respectiva palma virada para a frente. Os seres, agora à vista de todos, em elevado número, fixaram-se no inglês até este ficar a 2 mts deles. Mostrou-lhes um dossier com desenhos de seres humanos em várias das suas actividades: agrícolas, escolares, familiares, etc. mas os seres cercaram-no e atacaram-no sem aviso, como que movidos por uma ordem secreta simultânea. Faziam todos a mesma coisa e ao mesmo tempo, como se houvesse uma mente única que actuasse usando aqueles seres como seus membros executores. Perante este ataque impiedoso, os militares gritaram para todos acenderem as luzes na máxima potência e direccionarem-nas para os seres. O que fez com que os monstros recuassem de imediato. O inglês foi logo socorrido, mas encontrava-se num estado irreconhecível, e na sua agonia ainda conseguiu dizer: – Eles são gélidos! Saíram dali com o cadáver o mais rápido possível, sempre seguidos de perto pelos seres intra-terrestres. Ao chegarem à base intermédia gritaram para todos recuarem urgentemente, o que fizeram levando o material possível e mais necessário. Os militares, mantinham o grupo coeso e controlado, indo dois à frente, um dos quais transportando o cadáver, e quatro na retaguarda. A viagem de regresso à galeria principal, junto das “Portas do Inferno” – que nome mais apropriado! –, foi alucinante e marcante, dado a enorme tensão e perigo que os ameaçava. À sua espera encontrava-se o grupo de operações especiais, armados com lança-chamas. Assim que chegaram, começaram logo a evacuação através de inúmeros cabos lançados da superfície, os quais eram içados a partir de lá por meios mecânicos. Entretanto, cá em baixo, na galeria, uma estranha guerra dava início. Os seres eram aos milhares a convergirem ameaçadoramente para os militares que ainda permaneciam no local. Os militares, concertadamente, lançaram foguetes luminosos que ofuscaram as criaturas, as quais rugiam furiosamente, e, aproveitando a surpresa, lançaram uma rede sobre um grupo delas capturando quatro. Rapidamente envolveram-nas em lona negras, e a ponta da rede amarraram-na a um cabo que fizeram içar de imediato. Posto isto, lançaram mais uma série de foguetes luminosos e iniciaram a ascensão. Ninguém do grupo ficou para trás. Só houve uma baixa a lamentar. Nesse mesmo dia o Exército ordenou a evacuação urgente das pequenas aldeias que existiam ao longo da Serra. Uma semana depois, accionaram potentes cargas explosivas e toda a parte central da Serra se abateu e precipitou para um abismo medonho, ficando uma enorme cratera, como se ali tivesse existido um vulcão colossal. Nesse mês de Junho, na manhã seguinte à explosão, e depois das poeiras terem assentado, o Sol, com a sua intensa luz, penetrou nas cavidades mais recônditas daquele fosso, reclamando-o. O resto? Permaneceu no mais absoluto segredo.