Desafio Escrever um Conto Janeiro de 2011 www.portugalparanormal.com Universo Paralelo por AlexSynchro (conto vencedor) - Como queres que veja o que me mostras? Estás a tapar os meus olhos, deixa-me ver, estou ansioso!!! Exulta Niet, enquanto Isa lhe escurece a visão com uma venda. - Ok, acho que estás preparado para ver isto! Diz de forma assertiva Isa, tirando o nó da venda, que é mais um lenço de seda Atlante. Niet, observa completamente estupefacto o que Isa lhe prometera mostrar naquela manhã. Ele olha para ela e olha para o objecto num ritmo simétrico temporal, enquanto meio engasgado questiona Isa: - Que é isto? Onde... Onde encontraste isto? Nunca vi tal coisa na minha vida! Incrívelmente belo e brilhante. - Encontrei isto perto da montanha no lago hoje de manhã, tinha ido passear sozinha e não sabia bem o que fazer, portanto trouxe para aqui... Queria mostrar-te isto primeiro. Isa explica o que aconteceu, vê o ar pasmado de Niet que continua a observar o estranho objecto. Niet segura o objecto na palma da mão e então enfia o dedo no orifício. É um anel feito dum metal chamado ouro, que não existe na Atlântida. Niet retira o anel do dedo e coloca-o na mão de Isa. - É teu, encontraste-o, usa-o com prudência. Poucos o poderão ver. Sabes bem que assim que o virem, será motivo de cobiça. É um sinal dos deuses atlantes. Isa ouve as palavras do seu amigo e responde: - Eu sei. Tens razão, poucos na nossa bela cidade irão admirar este objecto apenas pelo que ele é. Todos o quererão. Isa dá a mão a Niet e metem pés a caminho da cidadela, Sais, capital da Atlântida. Pouco falam no caminho. Trocam olhares enquanto pensam a melhor forma de mostrar o achado. Num outro local, num outro multi-verso, num outro tempo: - Sei que caiu aqui. Foi aqui. Não há buracos neste chão, para onde foi? Eu ouvi-o bater no chão uma vez e desapareceu. Não entendo! Desesperado, Plato mete as mãos na cabeça e mostra um ar desesperado enquanto vai falando com ele próprio. Ele deixou cair um aro feito duma liga metálica, que era muito necessário para completar a máquina que estavas prestes a terminar de construir. Uma máquina com a qual tinha sonhado, uma máquina que permite transformar qualquer metal em ouro. O sonho durou horas e Plato lembrava-se do sonho perfeitamente, estava na fase final duma construção que começara há dois anos. Tal peça era imprescindível para finalizar a máquina, que até nome já tinha, Plato pensara baptizar a máquina de HA, Hermes Alquimista. Seu herói de eleição, desde os tempos de escola, em que lera um livro de Hermética e Alquimia, estava Plato no ano 2000, um ano que foi de mudança geral e ano no qual Plato encontrou o seu destino. Todos estes momentos lhe percorriam a mente enquanto de cócoras continuava a olhar o chão, procurando o aro, procurando o seu destino. - Não sei se algum dia conseguirei construir um aro com as proporções perfeitas como aquele... Voltando a Atlântida, num outro tempo... Isa está radiante com a reacção de Niet, eles andam em passo rápido rumo á cidadela. Ao chegar a casa, Isa grita pelo pai, que se assusta com tal aparato. Desce as escadas com rapidez, pensando que algo de muito grave tinha acontecido e talvez tenha mesmo... - Que foi minha filha? Que aconteceu? Pergunta Euugor enquanto se aproxima do par! - Nada venerado pai, queríamos mostrar-te o que encontrámos perto da montanha no lago. Não é lindo? Enquanto Isa diz estas palavras, os olhos de seu pai, abrem de espanto e de medo, como se tivesse visto a própria morte nas mãos de sua filha... - Mostraste a mais alguém? Por favor, diz-me que não! Tens que te livrar disso já, não pode ficar nem mais um segundo nesta casa! Completamente fora de si com estas palavras de seu pai, Isa questiona: - Mas... Mas porquê pai? Que mal tem o que achámos? Não estou a entender, e não... Não mostrámos a mais ninguém, o pai é o primeiro. Ainda assim espero que me expliques. Por favor diz-me o que sabes. Euugor puxa uma cadeira e olha pela janela para observar a altura do sol! Descansado então por mais ninguém ter conhecimento daquele famigerado objecto e por ainda haver algumas horas de sol... Começa a sua explicação! - Lembram-se do druída Ishmael? Lembram-se da Profecia? Se calhar não, pois então... Lembrar-vos-ei... A profecia dizia que num dia de eclipse total do Sol, um artefacto, seria encontrado por uma jovem mulher. Esse artefacto traria a Sais, a discórdia, pela sua beleza ser superior a tudo o que é Atlante, traria ódio, por todos o quererem, traria desgraça porque qualquer um mataria apenas para tocar nesse mesmo artefacto. Ninguém sabe como é esse objecto, mas assim que o virem, saberão logo, pela sua beleza, assim como eu soube... Tu és demasiado nova e tu também Niet, mas eu lembro-me, e teus pais lembrar-se-ão também Niet, há mais ou menos 22 anos, houve um outro eclipse total do Sol e nesse dia, o Rei Mosnid mandou o exército vasculhar toda a cidadela em busca do objecto eventualmente encontrado. Isa... Nesse dia... A tua mãe morreu, durante a confusão gerada na praça central. Hoje é dia de eclipse total do sol e eu não te quero perder também. Entendes agora a minha reacção? Entendes porque terás que te livrar disso? Eu nunca te contei o que rodeou a morte da mãe, fui adiando esse assunto todos os dias. Hoje foi o dia e nem de propósito, tu minha filha, encontraste o objecto da discórdia. O Rei está neste momento a preparar com os generais uma nova procura pela cidade. A nossa casa é perto do Castelo, será com toda a certeza uma das primeiras. Tens dezasseis minutos para levar esse objecto o mais longe possível desta casa. Em dezasseis minutos, o exército real sairá em busca do artefacto e não descansará até ter a certeza que não existe ou que ninguém o encontrou. Em dezasseis minutos, uma das Luas colocar-se-á entre o Sol e a Terra e penumbra irá ser notada, será o sinal para as tropas saírem em direcção ao seu objectivo. Niet, peço-te que leves a Isa contigo e se livrem disto o mais rápido possível. Eu não posso ir, estou demasiado velho e cansado para tal. Fazes isso Niet? Niet e Isa estão completamente estupefactos com tais revelações. Isa não se contém e deixa cair umas lágrimas pela mãe que mal conheceu, Niet agarra na mão de Isa e diz-lhe: - Vamos! Não há tempo a perder. Pode ficar descansado Euugor, eu trato disto. Voltando ao tempo presente, onde Plato continua intrigado pelo destino do aro e desesperado com o facto de ser quase impossível fazer de novo tal objecto com as proporções perfeitas. Peso, dimensões, raio, circunferência todos alinhados pelo Phi, o chamado número divino, a proporção dourada. Demorara meses a conceber tamanha perfeição e agora estava devastado pela sua perda. - Não conseguirei terminar a máquina tão depressa. Não terei coragem para tentar criar um aro assim outra vez. Diz para ele próprio, enquanto se senta no chão, e chora, como uma criança que perdeu o seu brinquedo preferido. Regressemos a Sais, onde Isa e Niet estão a poucos minutos da montanha, onde fora achado o anel. Não trocam uma única palavra, mas ambos sabem o que fazer. - Chegámos Isa, está aqui o lago. Foi aqui não foi? Isa, escuta-o e diz como que a soluçar. - S... Sim Niet, foi aqui mesmo, estava nesta pequena clareira. Dá-mo, eu livro-me dele, vou atirá-lo para o lago. Dá-mo cá! Quando Niet estica a mão, ouvem-se as trombetas reais; as tropas estão a sair do castelo naquele momento. Isa agarra no anel, olha para ele a última vez e atira-o para o centro do lago, chorando enquanto o faz. Uma brisa sopra e sentem que fizeram aquilo que devia ser feito. Dão as mãos e dirigem-se para Sais, a Lua já tapa o Sol e então, de consciência tranquila e sabem que aquele dia mudará as suas vidas para sempre... De volta a Plato, adormecido, nas suas lágrimas no chão da sua cave, uma brisa sopra pela pequena janela, onde a lua brilha e naquele momento ilumina o seu rosto e o acorda. Plato levanta-se, resignado por ser quase missão impossível encontrar o aro... Plato olha para a máquina, esfregas os olhos uma vez, não acreditando naquilo que vê. O aro está no seu local, colocado na máquina, como se alguém o tivesse colocado lá, divinamente... Plato incrédulo, belisca-se, verificando que não sonha tudo aquilo. - Mas como? Incrível! Está inserido, como se eu o tivesse feito, mas não o fiz! Não posso crer, será que fui eu enquanto dormia? Eu ouvi-o cair no chão, bateu uma vez e desapareceu, será que esteve ali todo este tempo? É impossível! Plato senta-se de novo no chão, contemplando a sua criação... Olha pela janela e vê a sombra da Terra a penetrar no círculo lunar, é noite de eclipse lunar... Não questionando mais o que aconteceu, levanta-se, respirando fundo dirige-se para a rua, onde observa melhor aquele espectáculo natural. Sentiu-se então concretizado e unido consigo mesmo e com a Natureza... - FIM -