Desafio Escrever um Conto Janeiro de 2010 www.portugalparanormal.com Viagem No Tempo por Morgriff Procurava por ele por entre os destroços... Que cenário horrível será este? Olho à minha volta e vejo espadas e escudos de pesado e ferido ferro...Ferido... Amassado quero eu dizer... Vejo poças de sangue, mas nenhum corpo aberto por aqui está… Nada há que possa justificar estas piscinas de vermelho escarlate... Que aqui presencio... Procuro a procura-lo... Mas não encontro ninguém... Caminho por entre as armaduras desfeitas as afiadas lâminas dos guerreiros que estarão agora, por outras paragens... Mais pacíficas, quem sabe... Vejo um edifício à minha direita e dirijo-me a ele... - Não! Não me faça mal! – Grita uma pobre mulher, com um bebé choroso ao colo... - Calma, nada de mal lhe farei! O que se passou aqui? - As tropas do rei passaram aqui e foram emboscadas pelos rebeldes da aldeia… - Do rei? – Perguntei eu, absolutamente estupefacto com exacta afirmação... - Sim do rei! Ele cobra demasiado impostos! Tem tudo o que quer, mas é a população que financia, contra a vontade, a sua ganância! Saí da casa, assustado, deixado para trás a pobre mulher que continuava a contar, para o éter, a triste história de reis e bandidos que acabava de inventar... Mas onde raio estou eu? Espadas? Escudos… Sinto-me perdido nos meus pensamentos... De repente, ouço gritar a voz que esperava, já há muito tempo, ouvir! - Ricardo! Aqui! – Dizia o Duarte, aos gritos, do meu lado esquerdo, abrigado dentro de um casebre estranho, cuja porta estava derrubada... Corri para ele e deparei-me com uma casa… Bem, aquilo não era uma casa, nem nada era, que fosse parecido a uma habitação humana... - Onde estamos, porra? – Perguntava ele agitado, a tremer... - Não faço ideia… Mas onde quer que estejamos, estares aí feito menino indefeso não vai adiantar de nada! Anda, temos de descobrir onde estamos e como voltamos a casa! Ricardo e Duarte estavam em casa dos pais do segundo, a jogar poker e beber umas cervejas, como bons e mal comportados novos-adultos… Ainda tinham pensado em fugir no carro do pai do Ricardo, mas apesar de ter a carta de condução ainda fresca no bolso, faltou-lhe a coragem… Quando ia a tirar a chave, as pernas fraquejaram-lhe miseravelmente. De repente, sentiram-se desvanecer, caindo das cadeiras, arrastando com eles a toalha… Este efeito que mais pareceu uma cena de cinema fatela, lançou-lhes as cartas e as fichas para cima, deixando-os soterrados no dinheiro de plástico, que como quase tudo naqueles pós-adolescentes, era fictício... Vagueavam já há horas pelo manto metálico, que aquela suposta aldeia medieval albergava como sendo o seu território e não encontravam nada que lhes desse pistas sobre onde estariam… - Quero ir embora, porra! - Cala-te, Duarte! Não tens mais palavras para dizer? Que raio de linguagem é essa? - Sinto-me frio, com fome, com sede, e dormente, estou numa aldeia medieval, com reis, rebeldes, miúdas indefesas e tal! Achas que não tenho razões para estar assim? - Cala-te e anda! - Mas tu pensas que és o rei disto é? Ai, espera, o rei foi contestado pelos rebeldes! Vê lá se não queres que te conteste um soco na cara também! - Duarte, quando acabares de choramingar como uma lagarta ingrata, segue-me a ver se arranjamos a saber onde estamos antes que o papa venha a Portugal, ok? - Ricardo, Duarte, o que estão a fazer no chão? Levantem-se e vão deitar-se! – Diz o irmão mais novo de Duarte, enquanto o pontapeia suavemente… Ao ver que não obtém resposta volta a ir para o corredor, a infernizar baixinho os “bêbados anormais que estão desmaiados na sala”, mas nem por isso avisa ninguém... - Olha, olha! Está aqui um papel no chão! - Deixa ver! - Deixa ver, o tanas! Agora estou eu! Bolas que puto chato! - Sim Duarte… - Diz Ricardo com voz sarcástica e enfadada... - Olha, estes gajos nem português sabem escrever... Parecem o meu irmão a tentar acertar na gramática... Duarte ri-se, enquanto Ricardo lhe arranca o pedaço de papel grosso das mãos... Ricardo tentou ler e descodificar o que tinha nas mãos... “Carta Régia Vem por este meio, o Rei, autorizar a feira semanal, em terras de Santa Maria. 17 de Julho do ano de 1876” - Isto é só uma carta régia, Duarte... - Diz Ricardo, em tom irónico... - Uma carta de quem? Que nome é esse? Régia? Isso sequer é nome de gente? - Sabes, Duarte, tu dás razões aos evolucionistas... Sem duvida, descendemos dos símios… E pelos vistos tu ainda não saíste do patamar dos primitivos... Queres um amendoim, queres? Duarte ficou irritado, mas sabia que nada poderia fazer... - Mas, rei... Carta Régia? Terras de Santa Maria? Ó meu deus! Estamos em Santa Maria da Feira! Eu li isto quando cá vim, o ano passado! O rei autorizou aqui uma feira! - Sim claro, fizemos Lisboa – Feira, num pulinho não foi, ó génio? -Olha eu só me quero ir embora daqui! Como viemos aqui parar? - Não faço ideia, e quero ir embora! - Anda, vamos! Ricardo arrastou Duarte pela gravilha solta do único caminho à vista, enquanto este definhava pelas pedras... - Tenho sede... - Cala-te, Duarte, que já não te posso ouvir! - Ok, ok, velha ranhosa! Antes de que algo pudesse fazer prever, por detrás de Duarte e Ricardo ergue-se uma espada! Subida por cima das suas cabeças, preparada para os cortar ao meio! - Duarte, sai! – Grita Ricardo ao reparar na sombra de um homem atrás deles, envergando o que parecia uma espada enorme! A espada desceu sobre eles, passando entre os dois, chocando contra a pedra do solo, partindo a lâmina brilhante! - Bolas! O que passou aqui? – Diz Duarte, esfregando a cabeça, sentado, olhando para o caos que o rodeava... - Não faço ideia, Duarte... Ou melhor, tenho um palpite... - FIM -